02 abril , 10h00 (Dia Internacional do Livro Infantil)
Queres
ouvir uma história? "O fato novo do Imperador" de Hans
Christian Andersen
Oficina: Ilustração e
colagens
CARTA ÀS CRIANÇAS DE TODO O MUNDO
Os leitores perguntam muitas vezes aos escritores como é que escrevem as suas
histórias – de onde vêm as ideias? Da minha imaginação, responde o escritor. Ah, sim,
dizem os leitores. Mas onde fica a imaginação, de que é que ela é feita, e será que
todos temos uma?
Bem, diz o escritor, fica na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e palavras e
memórias e vestígios de outras histórias e palavras e fragmentos de coisas e melodias
e pensamentos e rostos e monstros e formas e palavras e movimentos e palavras e
ondas e arabescos e paisagens e palavras e perfumes e sentimentos e cores e ritmos
e pequenos cliques e flashes e sabores e explosões de energia e enigmas e brisas e
palavras. E fica tudo a girar lá dentro e a cantar e a parecer um caleidoscópio e a
flutuar e a pousar e a pensar e a arranhar a cabeça.
Claro que todos temos uma imaginação: se assim não fosse, não seríamos capazes de
sonhar. Contudo, nem todas as imaginações são feitas das mesmas coisas. A
imaginação dos cozinheiros tem sobretudo paladares, e a dos artistas mais cores e
formas. Mas a imaginação dos escritores está cheia de palavras.
E nos leitores e ouvintes das histórias, as imaginações fazem-se com palavras
também. A imaginação do escritor trabalha e gira e molda ideias e sons e vozes e
personagens e acontecimentos numa história, e a história é apenas feita de palavras,
batalhões de rabiscos que marcham ao longo das páginas. E depois chega o leitor e os
rabiscos ganham vida. Ficam na página, parecem ainda rabiscos, mas também
brincam na imaginação do leitor, e o leitor começa igualmente a desenhar e a rodar
as palavras de modo a que a história se crie agora na sua cabeça, tal como tinha
acontecido na cabeça do escritor.
É por isso que o leitor é tão importante para a história como o escritor. Há apenas
um escritor para cada história, mas há centenas ou milhares ou mesmo milhões de
leitores, na própria língua do escritor ou traduzida para muitas línguas. Sem o
escritor, a história nunca teria nascido; mas sem os milhares de leitores em todo o
mundo, a história não viveria todas as vidas que pode viver.
Cada leitor de uma história tem alguma coisa em comum com os outros leitores da
mesma história. Separadamente, mas também em conjunto, eles recriam a história
do escritor com a sua própria imaginação: um ato ao mesmo tempo privado e
público, individual e coletivo, íntimo e internacional. Isto deve ser o aquilo que o ser
humano faz melhor.
Continua a ler!
Siobhán Parkinson
Autora, editora, tradutora e distinguida com o Laureate na nÓg (Children’s Laureate
of Ireland).
Tradução: Maria Carlos Loureiro
Sem comentários:
Enviar um comentário